Obra S. Pedro Apóstolo


HISTÓRIA E FUNDAÇÃO

O expancionismo colonial dos últimos séculos criava em toda a Europa um complexo de superioridade cultural, técnica e industrial, que os levava, igualmente, a um complexo racial.

Os missionários eram filhos desta Europa, orgulhosos deste esplendor e conquistas e, com este complexo, falavam dos povos que evangelizavam, como "pobres selvagens!..." Tudo isso repercutia nos fiéis que achavam normal que "a sublime dignidade do sacerdócio" não poderia ser conferida a aqueles "pobres selvagens" das missões.

Não era este, porém, o critério e o pensar dos Papas. Inocêncio XI dizia: "Desejo mais a ordenação de um padre nativo que a conversão de 50.000 pagãos". E Pio VI recomendava aos Vigários Apostólicos: "A abertura de seminários é vosso primeiro e mais nobre dever". Leão XIII mandou gravar na medalha comemorativa da inauguração do Seminário de Kandy, no Ceilão: "Teus filhos, ó Índia, serão os ministros de tua salvação". Bento XV expressa com tristeza: "É doloroso que existam regiões nas quais há séculos foi anunciada a fé cristã, contudo ainda não se encontra um clero nativo".

Estes reiterados apelos encontravam resistências dos poderes políticos que não viam com bons olhos a promoção das colónias.

O Espírito Santo se encarregava, neste contexto, suscitar um profeta, uma mulher leiga - Joana Bigard - que, com sua mãe Estefânia, enfrenta a necessidade da formação do clero nativo, em terras de missão. "Sentiram o chamamento de Deus, diz João Paulo II, e consagraram todos os seus bens, energias e suas vidas na propagação do Evangelho promovendo a formação de sacerdotes e homens e mulheres consagrados na vida religiosa.

Souberam assumir com entusiasmo e tenacidade um instrumento válido para a realização deste nobre compromisso". Conhecem o Evangelho e a história das missões do mundo. Joana, comunica-se com Pe. Villion, grande missionário no Japão e, através deste, com Dom Cousin, bispo de Nagasaki, cuja comunidade era nova e antiga. Nova porque o bispo acabava de congregá-la, antiga porque sua origem remontava a 250 anos, tempos de São Francisco Xavier. Cristãos descendentes de um pequeno número de famílias que, ao se desencadear a perseguição, decidiram fugir para as montanhas para salvar sua fé e continuar a presença da Igreja em sua pátria.

A fé foi sendo alimentada de "pai para filho..." durante esses 250 anos. Agora reconhecida a liberdade religiosa, um bispo os congregava. Foi organizado um pequeno seminário com a capacidade para 50 alunos. No dia da inauguração apareceram mais. Escreve uma carta a Joana pedindo-lhe uma ajuda para ampliar o seminário e manter os seminaristas para não ter que dispensar essas vocações.

No ano de 1922, Pio XI eleva esta Obra à condição de PONTIFÍCIA e, em 1925, nomeia Santa Teresinha do Menino Jesus, a Padroeira do Clero e das missões.


IDENTIDADE E OBJECTIVOS

"Esta Obra foi fundada para sensibilizar o povo cristão sobre o problema da formação do clero local nas Igrejas missionárias. A Obra convida a colaborar na formação dos candidatos ao sacerdócio por meio de uma ajuda espiritual e material. Os fundos obtidos com a fundação de bolsas, o pagamento de pensões, as quotas e outros donativos, possibilitaram a construção e o desenvolvimento de muitos seminários diocesanos menores e maiores. Desta forma, a Obra contribuiu em grande parte à promoção do clero local. Esta Obra continua desempenhando um papel muito importante.

Nestes últimos tempos, a Obra de São Pedro Apóstolo ampliou progressivamente seus objectivos concedendo também uma ajuda às casas de formação dos aspirantes de ambos os sexos à vida religiosa" (Estatutos).

A sensibilização do Povo de Deus sobre a urgente necessidade de presbíteros, religiosos e religiosas para a evangelização nas terras de missão e em todo o mundo e a ajuda espiritual e material para sua formação são os objectivos específicos desta Obra, no conjunto das Quatro Obras Missionárias Pontifícias.

A Informação-Formação foi a causa da motivação inicial de Joana e que devem ser os elementos de conscientização hoje de todas as comunidades eclesiais.

A Cooperação espiritual, pelo caminho do sacrifício, como Joana experimentou. A oração, o agradecimento e louvor. Ela dizia: "Com imensa alegria a Igreja deve agradecer a Deus o dom inestimável da vocação presbiteral que Ele concede a tantos jovens dos povos recém-evangelizados e convertidos a Cristo".

Cooperação económica: "Não podemos permitir que nenhuma vocação se perca por falta de recursos", disse João Paulo II.

E os frutos aconteceram. Em 1918, nos 50 anos desta Obra, os padres nativos da África eram somente 90. Hoje, entre diocesanos e religiosos ultrapassam 10.000. Na Ásia, o clero nativo não alcançava o número mil. Actualmente, se aproximam a 25.000. E o que dizer dos missionários da América Latina presentes em outros continentes? Da mesma forma, a presença de evangelizadores africanos, e asiáticos actuando em todas as partes da geografia humana?



BIOGRAFIA DE JOANA BIGARD

Joana Bigard nasceu na cidade de Coutances, Normandia, aos 2 de dezembro de 1859. Aos 14 anos já demonstrava interesse em ingressar na vida religiosa. Em sua vida familiar passou por momentos muito trágicos: perdeu o pai, Charles Victor Bigard, quando tinha 19 anos e seu irmão, René, logo depois, aos 28 anos. Em meio a estas duas mortes, quando com 23 anos de idade, consagrou sua vida no amor e na fidelidade a Jesus Cristo. Sofreu muito por causa desta sua consagração.

Joana abre-se ao universalismo, buscando ajuda a todos os seminários em terra de missão. Mãe (Estefânia) e filha (Joana), iniciam peregrinações, de casa em casa e entre conhecidos e amigos, no sentido de conseguir ajuda material e espiritual para esta finalidade. Os trabalhos são desenvolvidos e, dessa forma, mãe e filha, fundam a Obra de São Pedro Apóstolo (1889).

Joana passou os últimos 25 anos de sua vida numa clínica psiquiátrica, onde faleceu, em 1903. Escreveu ela: "Deus me faz pagar caro a honra de ser chamada a 'mãe dos sacerdotes'. Os queridos seminaristas nunca saberão quanto isso me custou".

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