HISTÓRIA
Esta Obra surgiu para auxiliar os
educadores a despertar, gradualmente, a consciência missionária nas crianças,
animá-las a fim de compartilharem sua fé e os seus bens materiais com as
próprias crianças das regiões e Igrejas mais necessitadas e promover as
vocações missionárias a partir da idade mais tenra.
A intuição de D. Carlos de
Forbin-Janson, pedir à Igreja um gesto permanente de sua maternidade e a
ousadia de comprometer as crianças cristãs com gestos concretos de fraternidade
sem fronteiras, alcançou, nos 150 anos de existência, uma força incontida.
São Pontifícias porque se
desenvolveram com o apoio da Santa Sé que, ao fazê-las próprias, lhe concedeu
um carácter universal. Por serem Pontifícias estão directamente ligadas ao
Vaticano - ao Papa - particularmente à Congregação pela Evangelização dos Povos
(antigamente Propaganda Fide), coordenadas por meio de um Presidente e os
Secretários Internacionais de cada uma delas. As Obras Pontifícias observam as
finalidades de animação, formação e cooperação missionária.
Nunca se saberá - na contabilidade
humana - o quanto as crianças da Infância Missionária recolheram e recolhem em
favor de seus irmãos nas missões.
No ano de 1946 surge das Nações
Unidas a UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), com o objectivo de
contribuir para a infância no mundo subdesenvolvido. Mas um século antes, no
seio da Igreja, surgiu a primeira organização mundial em favor da infância
desamparada, com um programa mais amplo do que da UNICEF: ajudar não só nas
necessidades físicas, mas também espirituais e para o conhecimento do
verdadeiro Deus.
Apoiada por todos os Papas, Pio XI
elevou-a à categoria de Obra Pontifícia, em 1922.
METODOLOGIA
Para entendermos a metodologia é
necessário olharmos a pedagogia de Jesus. Jesus, primeiramente, mostrou, em sua
vida, a presença da misericórdia e do poder salvífico de Deus. Compreendeu cada
um dos apóstolos, dos discípulos e discípulas na sua identidade e em
circunstâncias bem concretas: Acolheu, criou relações de amizade, ajudou,
perdoou, consolou, fortaleceu, abençoou, serviu até o extremo de oferecer sua
vida. Os discípulos e discípulas perceberam e vivenciaram esta experiência de
serem chamados e de se sentirem amados.
1º. Jesus, antes de tudo, se
esforça para compreender a situação do ouvinte. Antes de falar, faz-se amigo.
Compreende a pessoa e procura conhecê-la, amá-la e ajudá-la em suas dúvidas,
necessidades e interrogações.
2º. Jesus procura convencer o seu
ouvinte ajudando-o a descobrir uma nova realidade ou a interpretá-la de um modo
novo. Jesus parte para a experiência vivida. Ele quer a comunhão com os irmãos
para que todos vivam em família, em comunidades. Sua pedagogia não se finaliza
com a pessoa isoladamente. É uma pedagogia para a missão. Cada pessoa torna-se
discípulo de Jesus com o objectivo de "ir e fazer discípulos/as".
"Vai e anuncia aos irmãos e irmãs".
3º. Jesus quer a conversão, a
mudança de atitudes para uma vida de alegria. Jesus quer que todos descubram a
alegria da Boa Nova do Reino. A descoberta de um tesouro provoca uma grande
alegria, necessariamente, partilhada com irmãos e irmãs (cf. Boa Nova já
chegou, p 40s).
Esta metodologia, na Infância
Missionária, vai acontecendo por meio de Encontros dos grupos de crianças. Os
Encontros são semanais e se desenvolvem, de forma orgânica, em quatro áreas,
que correspondem às etapas ou áreas da formação missionária e do seguimento de
Jesus.
1ª área: Catequese Missionária - é
a reflexão e o contacto directo com a Palavra de Deus para que as crianças e
pré-adolescentes amadureçam na fé e no conhecimento da pessoa, da vida e obra
de Jesus, da Igreja e da missão. As crianças aprendem os elementos básicos do
ser missionário.
2ª área: Espiritualidade
Missionária - é o esforço de assimilar, viver e celebrar o que se aprendeu na
catequese missionária. Todos procuram tornar-se parecidos com Jesus na vivência
da Palavra, assumindo na vida o estilo de viver de Jesus: seus sentimentos ,
atitudes, opções.... Existem muitas formas de realizar este encontro: oração,
reflexões, retiros, celebrações da palavra, representação de passagens
bíblicas, celebração da Eucaristia, reflexões pessoais...
3ª área: Compromisso Missionário -
quer encaminhar acções concretas. As crianças, os pré-adolescentes e os
assessores procuram colocar em prática o que aprenderam nos encontros
anteriores. É o serviço e o testemunho. É o encontro que leva a sair e
evangelizar, comunicando o que foi aprendido e vivido. Leva a perceber as
necessidades das outras crianças pobres, abandonadas e excluídas,
experimentando o mesmo amor e misericórdia de Jesus que acolheu as crianças e
foi em busca da ovelha perdida.
4ª área: Vida de Grupo - É a concretização comunitária da Palavra,
testemunhando "a unidade para que o mundo creia" (Jo 17,21). Trata-se
de promover a comunhão, fortalecendo comunidades eclesiais vivas, dinâmicas e
missionárias. Cria mais unidade, fraternidade e ajuda mútua. É crescer juntos
como amigos de Jesus. É também o momento de revisar a vida do grupo. Pode-se
realizar diversos tipos de confraternizações, passeios, festas familiares,
jogos, concursos, celebrações dos aniversários, festas litúrgicas etc...
Realizada esta 4ª área, retomam-se a mesma dinâmica: catequese missionária,
espiritualidade missionária, compromisso missionário e vida de grupo.
Este é um processo cíclico e
dinâmico que vai configurando a criança da Infância Missionária como um
verdadeiro missionário (a), que inicia escutando a Palavra, passa para a
vivência pessoal, que se transforma em compromisso correspondente e reactiva e
firma a comunhão para a missão.
Enfim é o bom discípulo/a que
escuta a Palavra, a põe em prática e faz discípulos para Jesus. A Palavra de
Deus é sempre fundamental: Escuta-se na catequese; vivencia-se na
espiritualidade; pratica-se no compromisso missionário e testemunha-se na
comunhão comunitária.
A formação missionária ajuda ser,
viver, servir como verdadeiros missionários/as sempre e em todos os lugares,
para todo o mundo, com a presença de Jesus em todos os tempos. É necessário ter
sempre presente as circunstâncias e necessidades concretas de cada grupo ou
comunidade.
Uma forma de acompanhar este
processo formativo missionário é dar um espaço de tempo determinado, por
exemplo: uma semana para cada encontro, catequese, espiritualidade, compromisso
e vida de grupo.
O encontro semanal será sempre um
ponto de chegada e um ponto de partida no seguimento de Jesus. Cada encontro é
diferente do anterior, pois será sempre um novo passo no discipulado. Por isso,
a formação que as crianças recebem na Infância Missionária será sempre um
complemento sob o enfoque missionário universal daquilo que as crianças recebem
na família, na escola, na catequese, na paróquia. Mas o objectivo é que as
crianças cresçam na corresponsabilidade missionária universal e sejam
missionários/as das crianças e, por meio delas, nas famílias, nas escolas, na
comunidade e para todo o mundo.
Por isso, não chamamos
"reuniões", mas "Encontros", que continuam na vida pessoal
e comunitária sem fronteiras, durante toda a semana. Esta metodologia indica
que "Evangelizar com renovado ardor missionário..." é tarefa gratificante,
que nunca se conclui, pois "ainda existe longo caminho a percorrer"
(1 Reis 19,7).
FORMAÇÃO DE GRUPOS
FORMAÇÃO DE GRUPOS
Os grupos na Infância Missionária
são a base desta Obra das crianças. Eles formam-se a partir do conhecimento das
Directrizes e Orientações pelos assessores/as. Faz parte do processo a ampla
divulgação do que é a Obra da Infância Missionária e depois convidar as
crianças para participar.
É bom ter presente que a criança
faz uma opção livre para integrar o grupo da Infância. Os grupos da Infância
Missionária são formados de 12 crianças. Este é um número simbólico pois lembra
os 12 Apóstolos, aos quais Jesus confiou a missão da evangelização até os
confins do mundo. Participam dos grupos crianças e pré-adolescentes dos 7 aos
14 anos, que o desejarem, podem pertencer à Infância Missionária. Devem gostar
e mostrar interesse para concretizar as finalidades e os objectivos desta Obra.
Cada grupo escolhe uma criança
coordenadora que dirige os encontros, distribui as actividades com outras
crianças. O assessor/a (pessoa adulta) prepara os encontros com a criança
coordenadora. E como as crianças são capazes, elas mesmas coordenam os
encontros semanais. Esta é outra grande característica dos grupos da Infância
Missionária: o exercício de seu protagonismo.
Como bem diz o Papa João Paulo II:
"As crianças são os pequenos grandes missionários". O importante é
nós chegarmos junto às crianças! Elas são capazes de evangelizar e possuem um
enorme potencial. Nós, evangelizadores e evangelizadoras, devemos ir até às
crianças, trazê-los "para o meio", como fez Jesus, e aprender delas o
caminho, o jeito... de evangelizar com renovado ardor missionário. As crianças
é que nos perguntam: O que estamos a fazer sem as crianças? Que evangelização é
esta que não se abre, cada vez mais, à universalidade e à solidariedade? Abrir
os horizontes, perceber com as crianças a universalidade da Missão. O mundo é
mais amplo do que nossa comunidade.
Como fazer discípulos/as para Jesus
e construir um mundo mais justo e fraterno sem os predilectos de Jesus, as
crianças? Este é um trabalho prioritário e programado que cresce e se fortalece
na integração das forças e recursos das Obras Missionárias Pontifícias.
A evangelização não estará completa
sem a presença e acção evangelizadora das crianças. Este é o grande compromisso
da Igreja missionária.
IDENTIDADE E OBJECTIVOS
Esta Obra, como afirma o Concílio
Vaticano II, "tem a capacidade de infundir nos católicos, desde a
infância, o sentido verdadeiramente universal e missionário" (AG 38).
"Esta Obra é um serviço das
Igrejas particulares que trata de ajudar os educadores a despertar
progressivamente nos meninos uma consciência missionária universal e a estimulá-los
a compartilhar a fé e os meios materiais com os meninos das regiões e das
Igrejas mais necessitadas. Desde sua origem, a Obra contribuiu para despertar
vocações missionárias.
As quotas e as ofertas dos meninos
de todos os países contribuem para formar fundos de solidariedade que tem por
finalidade ajudar as obras e as instalações em favor dos meninos mais pobres.
A Obra tem uma função profundamente
educativa; deverá, pois, adaptar-se aos imperativos pedagógicos em seus métodos
de formação missionária e de disponibilidade à generosidade. Ao despertar a
consciência missionária dos meninos, deverá adaptar-se à sua mentalidade, à sua
idade, a seu ambiente e a suas possibilidade. Embora tenha seus próprios meios
e estruturas de catequese, a Obra tem que integrar-se sempre na pastoral de
conjunto da educação cristã dando-lhe uma abertura missionária" (Estatutos
da Infância Missionária).
Tendo presente estes objectivos, o
Papa João Paulo II expressou de forma actualizada seu espírito, na Mensagem do Ano
Internacional da Criança, definindo a Obra da Infância Missionária como
"uma verdadeira rede de solidariedade humana e espiritual entre as
crianças dos antigos e novos continentes".
PEDAGOGIA DA ACÇÃO
A Infância Missionária, bem como as
outras Obras Pontifícias Missionárias, firma-se sobre os eixos da Informação,
Formação, Organização e Cooperação, por meio dos quais as crianças e
pré-adolescentes se comprometem e participam corresponsavelmente na vida da
sociedade e da Igreja.
Primeiramente por meio da
informação abre os horizontes da vida das crianças e adolescentes para a
geografia humana universal. Esta informação lhes abre o coração e as tornam
capazes de amar e acolher a todas com um "amor divino", sem limites e
sem fronteiras: que as levam a rezar e a sacrificar-se por amor a Jesus.
Esta expressão de acolhida é o
compromisso real de partilhar com as crianças de todo o mundo os bens materiais
e económicos que possuem. Esta partilha as leva a não somente dar, mas também
receber (cf. RMi 85).
Esta atitude as leva a semear a
semente da vocação missionária, que é "o coração da cooperação da
Igreja".
E a organização, conforme sua
metodologia e pedagogia que torna as crianças verdadeiramente protagonistas da
evangelização.
Para ser missionário é necessário
ter: os olhos abertos para a informação e a formação e conhecer as necessidades
das crianças de todo o mundo: informação; o coração ardente para acolher a
todas as crianças e, no calor da fraternidade, as faz voltar-se para Deus:
oração; as mãos estendidas e abertas para gestos de cooperação para as crianças
que estão perto e as que estão longe: partilha; os pés em prontidão para a
cooperação pessoal e levar a mensagem em toda a parte: anúncio.
BIOGRAFIA DE FORBIN JANSON
Carlos Augusto Maria de Forbin-Janson, de uma
nobre família ao sul da França, nasceu em Paris aos 3 de novembro de 1785. Em
1805, antes de completar 20 anos, foi nomeado auditor do Conselho do Estado.
Era um jovem muito competente e talentoso. Poderia aspirar, legitimamente, uma
linda e ambiciosa carreira pelo mundo. Mas, sem hesitar, aos 23 anos largou
tudo para ingressar no Seminário. Viu-se chamado ao sacerdócio numa época em
que a situação da Igreja na França era, particularmente, muito delicada. O
imperador francês estava numa luta aberta com o Papa. Foi ordenado sacerdote em
1811.
Carlos de Forbin-Janson sempre foi
um grande pregar missionário e de retiros. No dia 24 de junho de 1824, aos 39
anos, foi nomeado bispo de Nancy e Primado de Lorena. Este foi o princípio de
inúmeras dificuldades pois teve de abandonar a diocese por questões políticas,
em 1830. Em diversas ocasiões e em distintas maneiras manifestou o desejo de
permanecer fiel para com a Igreja Católica Romana, colocando-se inúmeras vezes
à disposição do Papa.
Possuía grande ardor pela vocação
missionária. Em colaboração com o Pe. de Rauzan, do clero diocesano, fundou a
Missão da França e percorreu todo o país fazendo pregações missionárias, sempre
com muito zelo e talento. Um artigo publicado em Marsella sobre Forbin-Janson
afirma: "Zelo apostólico extraordinário, eloquência nas pregações.
Improvisações com muita facilidade e grande domínio da Sagrada Escritura...
Homem de puro estilo missionário. Sua dedicação às pessoas durante as missões
pela França era imensa. Tanto de dia, como de noite, sempre encontrava-se
disposto a servir, desde os mais pobres até os mais afortunados, inclusive
diante do rei e da família real. Sua caridade não tinha limites". Como
sacerdote e bispo, sempre sentiu-se impulsionado pelos sinais dos seus tempos,
inspirado por iniciativas em favor da actividade missionária da Igreja. Vivia
uma espiritualidade missionária.
Por motivos políticos não pôde mais
residir em Nancy. Tentou viajar para o Oriente (China), mas não conseguiu.
Viajou, então, ao Canadá e Estados Unidos onde permaneceu pregando o Evangelho.
Forbin-Janson colaborou com inúmeros bispos da França, Canadá e Estados Unidos
em seus trabalhos missionários. Muito preocupado com as crianças, encontrou-se
em Lyon (1843), com Paulina Jaricot (fundadora da Obra de Propagação da Fé) que
o apoiou plenamente no seu projeto de ajuda às crianças do mundo inteiro,
através do lema: "criança ajuda e evangeliza criança".
O Projecto cresceu e, aos 19 de
maio de 1843, a primeira Direcção da Obra fixou os seguintes objectivos: salvar
as crianças da morte e da miséria; baptizá-las e dar-lhes educação cristã;
prepará-las para serem apóstolas das crianças: criança ajuda e evangeliza
criança. No dia 03 de novembro, um ano após a fundação desta Obra, morre
Forbin-Janson.
Em maio de 1845, a Obra da Infância
Missionária já estava organizada em 61 dioceses da França. Somente esta Obra
teve o privilégio de ser fundada por um bispo e isto, em parte, talvez explique
seu crescimento e expansão tão rapidamente, num espaço de tempo tão curto. O
crescimento continuou não só em países da tradição católica, mas também em
nações e territórios de missão. Os primeiros padres nativos de Uganda,
ordenados em 1913, foram membros desta Obra, quando crianças.
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